A Panleucopenia felina é conhecida como enterite infecciosa felina. Esta doença viral altamente contagiosa, causada pelo parvovírus felino, tem sintomas que incluem febre alta, perda de apetite, vómitos, depressão, diarreia líquida, desidratação e outras complicações secundárias que quase sempre resultam em agravamento progressivo do estado do animal ou morte.
A contaminação pode acontecer mesmo através de objetos como comedouros, tigelas de água, roupas e brinquedos que tenham entrado em contacto com animais doentes, saliva, mordeduras, até ectoparasitas como pulgas e carraças,fezes e urina contaminada. A doença afeta principalmente gatinhos mas todas as idades são suscetíveis. Ao homem a doença não e transmissível. Os gatos que têm acesso a rua ou vivem soltos estão mais expostos à contaminação pelo vírus de doença.
O vírus é muito estável no ambiente e pode sobreviver 1 ano em temperatura ambiental em matéria orgânica. É resiste ao aquecimento a 56 graus por 30 minutos, sobrevive à álcool 70%, iodetos orgânicos, fenólicos e compostos de amónia quaternária. É inativado por solução de hipocloreto a 6 % , formaldeído a 4% em 10 minutos.
O Vírus da Panleucopenia felina ataca os intestinos e os leucócitos. A doença progride rapidamente e, se o tratamento adequado não for aplicado atempadamente, a taxa de mortalidade aumenta significativamente.
A prevenção por aplicação de vacinas é a melhor forma de se evitar a contaminação dos animais e propagação de doença.
A leucemia vírica felina (FeLV) é uma doença altamente contagiosa e é a mais comum doença dos gatos em todo o mundo.
É importante esclarecer que quando falamos de Leucemia felina estamos a falar de uma doença causada por um vírus que afeta felinos, e não de uma doença ocológica.
O vírus da Leucemia Felina é um Retrovírus, que só infeta os felinos.
A principal forma de contágio é através do contacto prolongado com secreções de gatos infetados, tais como saliva, sangue secreções nasais, urina, fezes, leite materno.
As formas mais habituais de contágio ocorrem através de mordedura, lavagem mútua entre gatos e partilha continuada e simultânea de comedouros.
Como este vírus não sobrevive com facilidade no ambiente, a transmissão através de fezes, urina, aerossóis ou o contacto com objetos que tenham sido contaminados com secreções de gatos infetados não é tão eficaz.
A transmissão de mãe para filhos pode ocorrer quer através da placenta, quer através da amamentação. O contágio também pode ocorrer por transmissão sexual, embora seja menos comum.
Grupos de Risco
Gatinhos e animais jovens são mais sensíveis ao vírus, por isso, a doença é mais usual em gatos entre 1-6 anos. Gatos machos que tenham acesso ao exterior de forma não supervisionada também correm maior risco através de dentadas durante lutas.
Gatinhos infetados dentro do útero, que sobrevivam ao parto, normalmente demonstram um desenvolvimento muito rápido da doença.
Como surgem os primeiros sinais de Leucemia Felina (FeLV)?
De forma simplificada, ao infetar um gato, o vírus do FeLV inicia a sua multiplicação na zona da boca e faringe e dissemina-se por todo o corpo do animal até atingir a medula óssea.
Os glóbulos brancos e plaquetas, produzidos e libertados na corrente sanguínea, “transportam” o vírus por todo o corpo até este chegar às diferentes glândulas corporais. As glândulas salivares são exemplo disso e este processo dura, no mínimo, cerca de um mês.
Os efeitos adversos no corpo do gato podem ser vários. Normalmente surgem estados de deficiência imunitária grave (perda das defesas naturais contra infeções), doenças oncológicas (p.ex. linfoma) e alterações sanguíneas.
Ao ficarem com o sistema imunitário debilitado, os gatos infetados não reagem eficazmente a outras infeções. Por este motivo, bactérias, fungos e outros vírus podem causar doenças severas por infeção secundária.
Em estados iniciais, os gatos infetados não demonstram qualquer tipo de sintoma. Porém, à medida que o tempo vai passando, a saúde deteriora-se e surgem sintomas devido a infeções secundárias ou desenvolvimento de problemas tumorais.
Sinais clínicos
Os sinais são normalmente inespecíficos, sendo os mais comuns a anorexia, perda de peso, redução de atividade, aumento dos gânglios linfáticos, pelagem com mau aspeto, anemia, vómitos, diarreia persistente (relacionadas com linfoma digestivo), estomatite, conjuntivite, rinite, dificuldade respiratória e derrame pleural (relacionado com linfoma do mediastino), icterícia, perda de equilíbrio, descoordenação motora, convulsões, insuficiência renal, abortos ou nascimento de gatinhos já mortos e problemas de fertilidade, febre persistente.
Os gatos com FeLV podem apresentar apenas alguns destes sintomas ou até nenhum. A presença ou não de sintomas deve-se ao facto de os gatos poderem reagir ao vírus de diferentes formas.
Formas da doença
Em casos raros o sistema imunitário do gato consegue eliminar o vírus.
Uma pequena percentagem de gatos consegue eliminar o vírus da sua corrente sanguínea, mas não do seu corpo. São animais que enquanto se mantenham neste estado normalmente não mostram sinais de doença. Contudo, pode ocorrer “ativação” do vírus novamente, passando a apresentar sintomatologia e a poder infetar outros gatos;
A maioria dos gatos infetados mostra quadros progressivos da doença e pode infetar outros gatos, pois apresentam o vírus em circulação sanguínea permanentemente (animais virémicos). Nestes casos, surgem sintomas e a doença vai evoluindo continuamente.
Diagnóstico
O diagnóstico de FeLV faz-se através de testes sanguíneos que detetam a presença de uma proteína do vírus. Podem ser realizados na clínica, através de um teste rápido, ou em laboratório.
Consoante a sintomatologia do paciente, devem realizar-se exames auxiliares de diagnóstico para diagnóstico de infeções secundárias ou processos oncológicos, como por exemplo análises bioquímicas e hemograma, radiografia, ecografia, citologia ou biopsia de massas, gânglios aumentados ou medula óssea
Tratamento e Prognóstico
Infelizmente, ainda não existem tratamentos capazes de curar a Leucemia Felina (FeLV). Por isso, ter um gato com Leucemia Felina pode ser um desafio. Contudo, tomando os devidos cuidados em casa e com o devido aconselhamento e acompanhamento médico-veterinário, é possível garantir uma boa qualidade de vida a gatos FeLV-positivo.
O mais importante é evitar infeções secundárias, mantendo os animais infetados em casa, sem contacto com o exterior ou com outros gatos.
A Leucemia Felina é, sobretudo, uma doença progressiva e mortal. Como resultado, a esperança de vida varia entre 2 a 3 anos, após o diagnóstico. A progressão desta patologia é muito mais rápida em gatinhos.
Acima de tudo, pela gravidade e agressividade desta patologia, é recomendado que se procedam a medidas preventivas como a vacinação. Fale com um Médico Veterinário para saber como pode proteger o seu gato desta doença fatal.
Considerações ambientais
Uma consideração importante no maneio de gatos com Leucemia Felina é a gestão do espaço e interação com outros gatos. Uma vez confirmado que um gato tem Leucemia, o acesso deste ao exterior deve ser totalmente restringido e, se possível, que seja o único gato em casa.
A restrição do acesso ao exterior previne que outros gatos possam ser infetados. Esta medida reduz os comportamentos de risco que aumentam a exposição ao vírus. Além disso, também reduz potenciais infeções secundárias para o gato FeLV-positivo.
Quando há mais do que um gato em casa, todos os gatos devem ser testados para Leucemia.
Dentro de casa, a separação entre gatos FeLV-positivo e gatos FeLV-negativo deve ser considerada. Tendo em conta as propriedades do agente infeccioso e as suas formas de contágio, esta medida reduz a possibilidade de infeção e de gatos não infetados e é uma das formas de prevenção.
A introdução de novos gatos está desaconselhada, uma vez que isso pode provocar alterações na estrutura social. Estas alterações podem desencadear comportamentos de risco, como lutas e mordeduras.
Gatos inteiros FeLV-positivo, devem ser castrados. A castração evita comportamentos de risco de exposição e transmissão do vírus como fugas, lutas e estilos de vida errantes.
Nas habitações com mais de um gato, as zonas de alimentação devem estar separadas, com comedouros e bebedouros individuais, para animais infetados e não infetados. A passagem ou troca de objetos entre as mesmas deve ser evitada.
O vírus não sobrevive por muito tempo no meio ambiente sendo facilmente inativado por detergentes e desinfetantes. Assim, a higiene das caixas de areia e de outros objetos com que os gatos contactam, pode ajudar a diminuir a carga viral.
Gatos FeLV-positivo que não demonstrem sinais clínicos de doença devem manter um contacto próximo com o Médico Veterinário e fazer exames físicos completos e regulares. A avaliação de parâmetros sanguíneos e bioquímicos deve ser realizada, no mínimo, uma vez por ano.
Os tutores devem também ter particular atenção com a alimentação dos seus gatos. A alimentação de gatos com Leucemia Felina deve ser equilibrada, com proteína de boa qualidade, poucos hidratos de carbono e moderada em gorduras e no teor de humidade. As dietas cruas são desaconselhadas em gatos FeLV-positivo, pelo risco de exposição dos gatos a doenças bacterianas e parasitárias associadas a este tipo de dieta.
Apesar de se aconselhar a restrição total do acesso à rua, a vacinação de gatos FeLV-positivo contra outras doenças deve ser mantida. Da mesma forma, o controlo antiparasitário deve ser realizado com a devida frequência.
Nos gatos FeLV-positivo que demonstrem sinais de doença, a intervenção terapêutica precoce é a chave para o sucesso terapêutico. A maioria dos gatos FeLV-positivo consegue responder eficazmente aos tratamentos. Contudo, estes gatos poderão necessitar de planos de tratamentos mais longos e agressivos, sob monitorização rigorosa, até à sua recuperação.
Prevenção da infeção e vacinação
Existem diversas vacinas disponíveis para proteção contra FeLV, no entanto nenhuma garante proteção a 100%. Apesar de não impedir uma possível infeção, a vacinação de gatos saudáveis aumenta a probabilidade de neutralizar a infeção. Sempre que possível, devem ser administradas vacinas sem adjuvantes, de forma a minimizar a inflamação local resultante da inoculação.
Devem ser testados:
Todos os gatos, antes de serem introduzidos num ambiente doméstico;
Gatos de interior com acesso ao exterior ou que partilhem casa com gatos com acesso ao exterior;
Gatos que partilhem ambientes com gatos FeLV-positivo, sobretudo se manifestarem sinais de doença;
Gatos de interior que possam ter sido expostos a outros gatos com estado incerto de FeLV.
A decisão de vacinar os gatos para Leucemia deve ser baseada numa análise de risco de infeção e do estilo de vida de cada gato.
Quando a vacinação é considerada apropriada, são necessárias duas administrações da vacina. A primeira dose é administrada a partir das 8 semanas de idade e a segunda cerca de 3-4 semanas depois. As novas indicações de vacinação consideram que um reforço pode ser realizado entre os 6 e os 12 meses após a última vacinação, e posteriormente a vacina poderá ser repetida na eventualidade de se manter o risco de exposição a FeLV.
Por norma, considera-se importante a vacinação de gatos que tenham acesso ao exterior ou que partilhem habitação com gatos com acesso ao exterior, gatos que habitem com mais do que um gato (sem testes prévios de FeLV) e de gatos que vivam com gatos FeLV-positivo.
A Imunodeficiência Felina é uma doença crónica de gatos semelhante à SIDA humana causada pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV). Embora pertença à mesma família do vírus causador da SIDA nos humanos, o vírus é altamente específico e não causa doença em humanos. A doença foi descrita em 1986 por Pederson e colaboradores nos EUA na Califórnia em gatos domésticos. O FIV afeta gatos de todas as idades, a variação descrita é de dois meses à dezoito anos, no entanto, há uma maior incidência em animais com idade superior à cinco-seis anos de idade.
Sabe-se que os gatos machos de vida livre constituem o principal grupo de risco, uma vez que a forma de transmissão mais comum é a transmissão do vírus pela saliva através de mordeduras durante as brigas territoriais ou para acasalamento. A transmissão no útero e no período perinatal também pode ocorrer. Os títulos virais no sangue e no leite são particularmente altos durante os estágios agudos da doença. A transmissão sexual é uma incógnita. Embora o vírus tem sido transmitido experimentalmente, a transmissão sexual não é importante. O vírus foi identificado em amostras de sémen de gatos seropositivos e assintomáticos.
O FIV desenvolve-se por fases e, durante grande parte do tempo, o gato não manifesta sintomas de qualquer infeção. Numa primeira fase, o gato pode manifestar febre sem razão aparente, mas pode também não evidenciar qualquer sintoma. Numa segunda fase, o número de linfócitos começa a diminuir, mas o gato permanece assintomático. Os gatos aparentam assim estar saudáveis. Nestes estados, podem contudo transmitir a doença a outros felinos. A terceira fase está associada ao aparecimento dos primeiros sintomas, em que o gato pode perder peso e alterar o seu padrão de comportamentos. Geralmente a primeira fase manifesta-se alguns meses após a infeção e dura sensivelmente dois meses. As outras fazes podem durar meses ou anos.
Na quarta fase os sintomas começam então a manifestar-se de forma mais recorrente. Com a destruição das células de defesa, os gatos ficam vulneráveis perante os vírus, incluindo os mais fracos, tais como os responsáveis por uma simples constipação. Os sintomas do FIV começam então a manifestar-se através da ocorrência frequente de infeções, algumas até pouco usuais, que em estado saudável seriam facilmente combatidas pelo gato: gengivites, estomatites, otites, infeções respiratórias, etc.
A última fase corresponde ao Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Com o sistema imunitário comprometido, o gato tem já pouco tempo de vida, apenas alguns meses. Mas os avanços médicos vão permitindo cada vez mais a extensão deste prazo. Fulminante parece ser a combinação de FIV e FeLV (leucemia felina).
O diagnostico é feito através da análise do sangue que pode ser feita na clínica veterinária, através de deteção dos anticorpos específicos. As vezes podem ocorrer falsos positivos ou falsos negativos e, nestes situações, os testes devem ser repetidos no laboratório. Gatos até aos quatro-seis meses podem ter estes anticorpos provenientes do leite materno. Gatos em fase terminal podem originar falsos negativos devido à inexistência de anticorpos.
O tratamento da FIV resume-se, basicamente, a um tratamento sintomático que não elimina efetivamente o vírus, mas sim trata as infeções secundárias oportunistas, estimula e aumenta a resistência do sistema imunitário e baseia-se em medicamentos antivirais, antibióticos, fluidos e um suporte nutricional e vitamínico. Ou seja, um gato infetado por FIV permanece infetado durante toda a vida e constitui uma potencial fonte de contaminação para outros saudáveis.
O vírus é muito instável fora do organismo do hospedeiro e não sobrevive por muitas horas no ambiente. É totalmente inativado pelos desinfetantes domésticos em 10-15 minutos.
Peritonite infecciosa felina (PIF)
A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença viral infecto-contagiosa, sistémica, imunomediada, progressiva e fatal. Todos os gatos são suscetíveis à infeção, mas a incidência é maior nos animais jovens e idosos.
Trata-se de uma vasculite do peritoneu que é uma inflamação dos vasos/capilares sanguíneos da membrana serosa que cobre as paredes da cavidade abdominal.
A transmissão acontece por via oral, contraindo o vírus através do contacto direto de gatos não infetados com fezes e outros fluidos corporais dum felino portador da PIF.
Fatores como o stresse, suscetibilidade genética, doenças concomitantes como FIV e FeLV, a robustez do sistema imunitário, uso de fármacos imunossupressores podem influenciar a evolução da PIF.
Existem dois tipos de coronavírus: o coronavírus felino entérico (FECV) e o coronavírus da peritonite infecciosa felina (PIF). O primeiro, normalmente, provoca sintomas gastrointestinais transitórios e, o animal acometido pode ter uma vida normal permanecendo assintomático a longo prazo.
Já o segundo tipo de coronavírus ocorre quando o coronavírus entérico (FECV) sofre mutação dentro do organismo do felino e evolui para a PIF.
As causas dessa mutação são, ainda, desconhecidas, mas especula-se que haja predisposição genética que favorece ao processo. Acredita-se que a fragilização do sistema imunitário desencadeada por situações de stress, desnutrição e outras doenças paralelas como a FIV e FELV, possa facilitar essa mutação.
APIF manifesta-se de duas formas: efusiva (húmida) e não-efusiva (seca), com base na quantidade de derrame em cavidades abdominal e torácica (ascite ou hidrotórax).
A forma efusiva é a forma mais grave da doença.
É comum surgirem lesões oculares e neurológicas como inflamação dos vasos da retina, edema da córnea, deslocação da retina, hemorragias, ataxia, convulsões e alterações comportamentais. Alterações no pulmão, fígado, rins, pâncreas e linfonodos mesentéricos são frequentes.
Atualmente não existe cura nem vacina para a PIF. O tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas e manter o sistema imunitário do animal o mais forte possível, recorrendo a antibioterapia, fluidoterapia e um bom suporte nutricional.
A rinotraqueíte infecciosa felina tem como agente viral responsável o herpesvírus felino . é uma doença viral muito frequente em gatinhos não vacinadas, sendo responsável por altas taxas de mortalidade em recém-nascidos. Os felinos afetados apresentam espirros, conjuntivite, febre, falta de apetite, tosse, úlceras na boca, pneumonia e depressão.
O vírus multiplica-se em regiões com temperatura abaixo da temperatura normal de gatos, como nas células epiteliais superficiais das membranas nasais e da conjuntiva, no epitélio da córnea, palato mole, amígdalas e epitélio traqueal.
A transmissão ocorre por contacto direto de gatos não vacinados com gatos doentes ou secreções no ambiente. As macro-gotículas eliminadas no espirro dos animais acometidos são importantes fontes de transmissão e podem ocorrer num raio de 1,5 m ao redor do animal doente. O período de incubação da doença é normalmente de 2-6 dias.
O Herpesvíirus não é eliminado do organismo do animal após o contacto. Assim sendo, o gato não vacinado será um portador definitivo do vírus. Isto quer dizer que os gatos que recuperam da infeção tornam-se portadores assintomáticos, ou seja, eles albergam o vírus no organismo de forma latente.
Períodos de stress (ex. hospedagem em gatil, viagens, ausência dos donos, introdução do outro animal em casa, outras doenças, etc) e queda de resistência imunológica são suficientes para que haja replicação do vírus, recidiva dos sintomas clínicos e a sua disseminação.
A par com o tratamento medicamentoso aplicado, é necessário manter uma correta higiene e desinfeção do ambiente onde vive o animal. A vacinação periódica contra o herpesvírus continua ser a melhor forma de combater a doença e conter a sua disseminação..
A insuficiência renal crónica felina é uma doença progressiva e debilitante, sem uma cura definitiva, mas que atualmente pode ser controlada permitindo que o gato mantenha melhor qualidade de vida por mais tempo.
Para compreender melhor o que é esta patologia, há que entender antes de mais o que é e qual a função do órgão “rim”.
Qual é a função dos Rins?
De uma forma simples, tal como em todos os mamíferos, os rins são órgãos responsáveis por filtrar todo o sangue do organismo, removendo produtos tóxicos que resultam do metabolismo, eliminando-os do organismo através da urina. Esta é a principal função dos rins. No entanto, para além disto, os rins são de extrema importância na manutenção do equilíbrio electrolítico e hídrico do animal, e têm um papel fundamental na produção de algumas hormonas importantes para o normal funcionamento do organismo, como por exemplo a produção de glóbulos vermelhos e o metabolismo do cálcio.
Termos um animal com doença renal crónica felina, significa que os seus rins perderam a capacidade de realizar a sua normal função de uma forma permanente e irreversível. É uma doença de progressão mais ou menos lenta. Com o evoluir da mesma, os rins vão perdendo a normal estrutura funcional que os constitui. A sua forma vai-se alterando e o tecido que os constitui também, deixando de existir estrutura normal e capaz de realizar o “trabalho” que é característico deste órgão.
Qual é a causa da doença renal crónica felina?
Na grande maioria dos casos de Doença Renal Crónica, é impossível determinar qual a causa que levou ao desenvolvimento da patologia.
Algumas raças têm alguma predisposição para esta patologia devido a problemas congénitos ou doenças renais familiares (por exemplo Abissínio, Persa).
Outras causas prováveis de doença renal crónica são:
* exposição a substâncias tóxicas para os rins (alguns medicamentos, produtos químicos)
* Tumores
* Doenças inflamatórias/imunomediadas e/ou infeciosas
* Amiloidose
Quais os sintomas da doença renal crónica felina?
A doença renal crónica é uma patologia que afeta os rins, mas que se se reflete sistemicamente, afetando todo o corpo.
Numa fase inicial ocorrem algumas respostas do organismo para tentar compensar a perda de função deste órgão. Nessa altura surgem os primeiros sintomas. No caso específico dos gatos, muitas vezes, durante um longo período de tempo (meses ou até anos), os sintomas são muito subtis e de difícil valorização pelos tutores, o que faz com que, infelizmente, muitos só sejam diagnosticados em estádios já avançados de doença renal crónica.
Desta forma, é imprescindível conhecer os sintomas mais frequentes de doença renal crónica, para poder saber o que acontece.
Mas, afinal quais são os sintomas que um gato com doença renal crónica felina pode apresentar e que devem alertar um tutor?
Os sintomas podem ser vários, ao observar estes ou alguns destes comportamentos, deve sempre procurar o seu Médico Veterinário assistente:
* beber muita água (polidipsia) e aumento do volume diário de urina (poliúria) – este é um dos sintomas mais usuais e descrito pelos donos.
* Perda de apetite (alguns animais apresentam quadros, em que comem menos, de uma forma esporádica, pelo que este aspeto é desvalorizado por muitos proprietários, sendo apenas indicado como significativo e preocupante quando o animal deixa de comer por completo)
* Perda de condição corporal (a perda de peso na maioria dos casos é lenta e o dono, na maioria dos casos, não consegue ter uma perceção deste sintoma logo no início da patologia)
* Vómitos
* Mau hálito (halitose)
* Úlceras na cavidade oral
* Animais dormem mais que o normal
* Deixam de se lavar
* Pêlo com aspeto baço e frágil
* Fraqueza generalizada
* Desidratação
* Anemia
* Hipertensão arterial
* Alteração da forma e tamanho dos rins
* Perda de proteína na urina (proteinúria)
* Acidose metabólica
Muitos destes sintomas podem ser detetados pelos donos, outros apenas através de meios de diagnóstico clínico. Há animais que apresentam todos estes sintomas e outros apenas alguns.
Muitas destas alterações não são exclusivas de doença renal crónica felina, podendo surgir em outros quadros clínicos e outras patologias. O Médico Veterinário deve ser sempre informado de qualquer alteração que seja detetada e será ele o mais indicado para efetuar o diagnóstico correto.
Como se diagnostica a doença renal crónica felina?
A doença renal crónica felina é uma condição progressiva, que se desenvolve ao longo de vários meses e é possível que os tutores não reconheçam de imediato alguns dos sinais clínicos associados.
Tal como noutras condições, os sinais clínicos manifestados por gatos com doença renal crónica não são específicos de doença renal, e por isso o diagnóstico terá que ser alcançado com base na história clínica, nos sintomas relatados pelos tutores, no exame físico detalhado e de alguns exames de diagnóstico, entre os quais análises ao sangue e à urina.
Uma vez que os rins têm como função eliminar certas substâncias através da urina, quando o rim sofre lesões avançadas a capacidade de filtração e de excreção do rim é afetada e torna-se reduzida. Como consequência, são acumuladas no sangue substâncias que o rim não elimina de forma adequada – como a ureia e a creatinina. Assim, e de forma a avaliar a função renal, é comum medir os níveis destas substâncias no sangue. Recentemente, tornou-se disponível analisar uma outra substância – a SDMA – que permite suspeitar de doença renal crónica numa fase mais precoce da sua evolução.
Ao mesmo tempo que se analisa o sangue, é também importante realizar algumas análises à urina. Dado que a capacidade do rim para concentrar a urina vai diminuindo com a progressão da doença renal, é comum analisar a urina quanto à sua densidade e verificar outros parâmetros, como por exemplo a presença de proteínas ou de bactérias na urina. A presença de proteína na urina é importante para saber a severidade da doença e é útil na avaliação da evolução da doença, uma vez que em casos de doença renal crónica é frequente ocorrerem perdas de proteína através da urina. Estes gatos que têm presença de proteínas na urina, se não forem tratados terão menos esperança de vida comparativamente com os gatos com DRC mas sem proteína na urina,
Para além destes exames, o médico veterinário também pode realizar raio-x ou ecografia abdominal, de forma a avaliar características como o tamanho, forma e estrutura dos rins.
Uma vez alcançado o diagnóstico, e dado que é uma doença progressiva, é comum categorizar os achados clínicos num dos diferentes estadios da doença. Por se tratar de uma doença que tem uma evolução variável, é vantajoso realizar exames com alguma regularidade por forma a monitorar e controlar a progressão da doença.
Como se trata a doença renal crónica felina?
Na doença renal crónica as lesões provocadas aos rins são irreversíveis, e assim sendo não se pode falar numa cura. Contudo, há bastantes motivos para manter o espírito positivo. Existe tratamento para: atrasar a progressão da doença, controlar sinais clínicos e promover o bem-estar do seu gato, de forma a que este tenha uma vida feliz e o mais longa possível.
Se por um lado é verdade que o tratamento terá de acompanhar toda a vida do seu gato, também é verdade que felizmente muitos gatos mantêm uma vida feliz por muitos anos após serem diagnosticados com doença renal crónica.
A medicação a ser prescrita e administrada será variável consoante o estadio da doença renal e dos sinais clínicos manifestados. Contudo, existem medidas que são transversais a todos os casos de doença renal, como a manutenção do estado de hidratação e a as alterações de dieta.
Uma das principais preocupações em gatos com doença renal crónica é a sua tendência para perderem fluidos, e por isso é importante manter um bom estado de hidratação. Nesse sentido, e com vista a promover o consumo de água pode ser vantajoso proporcionar um maior número de taças de água, humedecer a dieta seca, fornecer uma dieta húmida adequada ou recorrer a fontes de água.
A alimentação também é uma questão de extrema importância. Em certa parte, as substâncias que o rim filtra e deve eliminar na urina têm origem na alimentação, e assim devem ser feitas as alterações adequadas de forma a prevenir a produção e acumulação excessiva destas substâncias. Existem várias dietas renais que o seu médico veterinário pode aconselhar. A grande vantagem destas dietas é permitir um controlo mais eficaz dos níveis de proteína e fósforo no sangue. Sabendo que nem sempre é fácil um gato aceitar alterações na dieta, existem várias formulações secas e húmidas.
A determinado momento da doença renal crónica, há que considerar a perda urinária de proteína e uma possível presença de pressão arterial elevada – situações resultantes das lesões renais, e que por si só conduzem também a um agravamento da lesão renal. Neste sentido, consoante a avaliação física e do estadiamento da doença, poderá ser necessário recorrer a medicações próprias para reduzir perdas de proteína e para controlo da hipertensão.
O seu médico-veterinário irá recomendar visitas regulares de forma a acompanhar de perto a progressão da doença renal crónica felina e saberá avaliar a necessidade de introduzir outras medicações necessárias para ajudar a manter a vida do seu gato com qualidade.
A diabetes é uma doença endócrina (hormonal) em que o organismo não consegue produzir ou responder convenientemente, à hormona insulina.
A insulina é produzida no pâncreas e é como se fosse uma “chave” que se liga às células do corpo, permitindo que estas absorvam a glicose sanguínea (açúcar). É através deste mecanismo que as células recebem energia.
Durante a digestão dos alimentos produzem-se nutrientes fundamentais ao organismo. Um deles é a glucose. Após a refeição, esta substância aumenta na corrente sanguínea. Por influência da insulina, a glucose é absorvida e utilizada pelas diferentes células do corpo, diminuindo a sua concentração no sangue.
Por vezes a insulina não é produzida em quantidade suficiente ou as células não respondem à insulina produzida. Neste caso, os órgãos não conseguem recebem a glucose, levando a um aumento da concentração deste açúcar no sangue (hiperglicemia).
Em medicina veterinária classificamos a Diabetes, como em medicina humana, em dois tipos diferentes:
Diabetes tipo I: quando há diminuição de produção de insulina por parte das células pancreáticas
Diabetes tipo II: quando as células do corpo não respondem à insulina produzida.
Em ambos os tipos existe sempre aumento da concentração da glucose no sangue. No caso dos felinos é mais frequente a Diabetes de Tipo II, sendo a diabetes tipo I rara nos gatos. Embora possa afetar qualquer felino, os machos castrados e felinos obesos adultos e idosos, ou que tenham sido sujeitos a terapêuticas prolongadas com corticosteróides, apresentam maior risco.
Quais os sinais clínicos apresentados?
Embora muitos pacientes não apresentem todos os sintomas possíveis, os sinais clínicos mais usuais são os seguintes:
Perda de peso (as células do corpo não conseguem absorver glucose, por isso há “destruição” de reservas corporais como gordura e massa muscular, para conseguirem obter energia que necessitam)
aumento do apetite e ingestão de alimento (havendo animais que anteriormente não roubavam alimentos dos tutores, e passam a “atacar” pratos, alimentos para confeção de refeições, etc.)
aumento da ingestão de água (procuram beber água em vários locais, como vasos de plantas, lavatórios e lava-loiças, sanitas)
aumento do volume de urina produzida com glucose presente na urina eliminada (a caixa da arreia fica muito molhada rapidamente ou urinam fora da caixa, não sendo marcação de território)
perda de condição de pelagem (pelo sem brilho e embaraçado)
prostração (tendem a dormir mais e não se mostrarem enérgicos)
outros sintomas surgem secundariamente, como por exemplo, infeções urinárias recorrentes, desidratação, posicionamento plantígrado dos posteriores (apoiam membros posteriores desde os curvilhões), entre outros
Quando não diagnosticada, é uma patologia que conduz a múltiplas falhas orgânicas e quadros clínicos complicados. Por exemplo, a cetoacidose diabética, que pode levar à morte do animal.
Como se diagnostica Diabetes ?
O diagnóstico desta patologia endócrina não requer o recurso a exames nem procedimentos complexos. Aliás, pode ser diagnosticado numa consulta e no próprio dia.
O exame clínico completo e a cuidada história do animal são fundamentais para o diagnóstico.
A colheita de sangue e urina para realizar a medição da concentração de glucose, são testes fundamentais para o diagnóstico. É, contudo, imprescindível realizar as colheitas de amostras num ambiente calmo e com o mínimo de stress possível. Fisiologicamente, gatos em stress ou com medo, apresentam concentrações elevadas de glucose sanguínea (o que pode levar a diagnósticos errados). O médico veterinário pode enviar o sangue para um laboratório e solicitar estes doseamentos ou realizar estas provas na clínica. Pode ainda solicitar em laboratório, o doseamento de uma molécula, denominada frutosamina, que está habitualmente elevada em gatos diabéticos. Este parâmetro é muito importante de ser doseado para controle e avaliação da terapêutica que se institui, posteriormente ao diagnóstico.
A diabetes é uma doença que não tem cura, mas que pode ser controlada convenientemente. O tutor deverá ter o cuidado de seguir as recomendações do seu veterinário assistente bem como o plano de controle regular que seja instituído.
Tratamento da diabetes felina
Apesar da diabetes felina não ter cura, é uma condição tratável. Contudo, nem sempre é simples de gerir, e requer uma grande dedicação e compromisso por parte dos tutores.
O tratamento da diabetes tem por objetivo devolver a qualidade de vida aos gatos. Assim, o foco está no controlo dos sinais clínicos associados à diabetes e prevenção do desenvolvimento de complicações a longo-prazo. Evitando desta forma, flutuações adversas nos níveis de glicémia no sangue.
Antes de iniciar qualquer terapêutica, é possível que o seu Médico Veterinário peça exames adicionais de forma a identificar doenças concomitantes, ou avaliar a necessidade de alterar medicações atuais, que possam de alguma forma afetar o tratamento da diabetes.
A diabetes felina, quando não existem complicações associadas, gere-se principalmente através da administração de insulina e de uma dieta adequada.
Insulinoterapia
A gestão de fatores como dieta, nível de atividade e estilo de vida podem influenciar o controlo da concentração da glucose sanguínea. Contudo, a administração de injeções de insulina é um dos pontos-chave no tratamento da diabetes felina.
Ao início, a ideia de administrar insulina a um gato poderá parecer assustador. No entanto, com o auxílio do seu Médico ou Enfermeiro Veterinário, a maioria dos tutores e dos gatos habituam-se rapidamente.
Cada caso deve ser considerado individualmente, e as doses de insulina a administrar não são iguais para todos os gatos. As doses devem ser calculadas com base no peso (ideal) do seu gato, estilo vida e tipo de alimentação.
Gatos com excesso de peso, devem ter um programa de perda de peso controlado e gradual, como parte do tratamento. Gatos obesos são frequentemente um desafio terapêutico. Sendo que a obesidade tende a causar resistência à insulina e assim pode influenciar eficiência da insulina no organismo.
Tipos de insulina disponíveis no mercado
Existem diversas preparações de insulina disponíveis com diferentes períodos de atuação. Os efeitos na regulação do controlo da glucose sanguínea também são diferentes.
As preparações de insulina de longa duração têm a grande vantagem de permitirem que o tratamento seja feito com uma única injeção diária. Isto facilita a gestão da doença facilitando a vida aos tutores e representando menos stress para os gatos.
Frequentemente, no início do tratamento existe um período adaptação à terapêutica, que é bastante variável de caso para caso. Neste período, é comum que sejam requisitados alguns testes de forma frequente.
Estes dados são importantes não só numa fase inicial do tratamento e para saber se poderá ser necessário ajustar a dose de insulina. No entanto, uma vez estabilizados, os gatos diabéticos poderão ser monitorizados em casa, pelos tutores.
A terapêutica é considerada eficaz quando os sinais clínicos de diabetes mellitus melhoram significativamente ou são eliminados. Embora variável, a maioria dos gatos diabéticos conseguem ser estabilizados num curto período de tempo (em menos de 6 meses).
A importância da dieta
Uma vez que a terapêutica visa reduzir estados de hiperglicémia, os gatos diabéticos devem ser alimentados com uma dieta de elevada qualidade, com proteína altamente digerível e baixo teor de gordura e hidratos de carbono.
Existem várias dietas veterinárias disponíveis, formuladas especificamente para gatos diabéticos e o seu Médico Veterinário poderá ajudar a identificar qual se adequa melhor ao seu gato, e qual a quantidade diária que o seu gato deve consumir.
No entanto, uma vez que os gatos são conhecidos pela sua peculiaridade no que toca ao seu alimento, por vezes pode ser preferível manter o gato com a sua dieta habitual, de forma a evitar a períodos de anorexia e estados de hipoglicémia.
É também importante referir que os gatos diabéticos devem ser mantidos num regime bem controlado, sendo alimentados regularmente e seguindo uma rotina: mantendo a mesma quantidade do mesmo alimento, e à mesma hora do dia, de forma a acompanhar as administrações de insulina.
Hipoglicémia – uma consequência do tratamento
A hipoglicémia, uma diminuição excessiva dos níveis de açúcar no sangue, é um estado que pode ocorrer em qualquer momento da terapêutica. Contudo, é mais provável que ocorra durante o período inicial de adaptação dos pacientes. A hipoglicémia pode ser desencadeada por vários fatores desde uma redução no consumo de alimento, à presença de perturbações gastrointestinais (como vómito ou diarreia) e outras doenças, à administração de doses superiores de insulina, etc.
Pode manifestar-se como letargia ou inquietação, tremores e descoordenação, contudo em casos graves podem ser observadas convulsões e até estados de coma.
A hipoglicémia não controlada pode avançar para cetoacidose diabética – uma emergência médica e deve ser gerida o mais breve possível.
Complicações a longo prazo da Diabetes Mellitus felina
No decurso de diabetes prolongada e não controlada, um estado de hiperglicémia persistente pode resultar no desenvolvimento de algumas complicações:
Neuropatia diabética – é encontrada apenas ocasionalmente e traduz-se em lesões nervosas causadas, entre outros fatores, pela hiperglicémia.
Frequentemente é relatada uma dificuldade em saltar, fraqueza nos membros posteriores e perda de massa muscular.
Em algumas ocasiões os gatos apoiam a superfície plantar do membro no chão, ao invés de apoiarem apenas os dígitos.
Não existe um tratamento específico e o prognóstico é reservado. Contudo, a resolução parcial ou total dos sinais clínicos pode ocorrer com o controlo da concentração sanguínea de glucose.
Nefropatia diabética – o rim é alvo de alterações que podem conduzir ao desenvolvimento de insuficiência renal.
A nefropatia manifesta-se sobretudo pela perda de proteínas através da urina. Esta alteração causa lesões nos tecidos renais, alterando a capacidade funcional do rim.
Não existe um tratamento específico para a nefropatia diabética. No entanto, controlando o estado da diabetes e recorrendo aos cuidados médicos para estabilização da insuficiência renal é possível minimizar a evolução da doença renal.
Cataratas – A formação de cataratas é um processo irreversível, contudo é importante referir que as cataratas são raras em gatos diabéticos e bastante mais comum em cães.
No entanto, o desenvolvimento de cataratas pode ser súbito, mesmo após o início de terapia.
Desta forma, deve ser realçada a importância de manter um controlo acertado da concentração sanguínea de glucose, uma vez que previne complicações a longo prazo da diabetes felina.
Prognóstico
Em gatos, a remissão clínica é possível e deve ser, também, um dos objetivos a alcançar com o tratamento. Uma vez controlada a hiperglicémia inicial com recurso à insulina, gatos diabéticos que mantenham células pancreáticas capazes de produzir insulina em quantidades suficientes, poderão entrar em remissão clínica.
A remissão clínica traduz-se então pelo controlo da concentração de glucose sanguínea e ausência de sinais clínicos, na ausência de administração de insulina. O período de remissão clínica é variável e dependerá da duração do período de hiperglicémia e da existência de células pancreáticas funcionais.
Nem todos os gatos conseguirão entrar em remissão. Contudo, é importante relembrar que remissão não é o mesmo que cura, e mesmo não necessitando de insulina deverá ser mantida uma monitorização apertada.
Na avaliação do prognóstico da diabetes é necessário considerar fatores como a idade, a facilidade de estabilização da diabetes, a existência de outras doenças ou o desenvolvimento de complicações da diabetes e a gravidade das mesmas.
Não existe cura, mas quando bem gerida, é possível garantir aos gatos diabéticos longos anos de vida com excelente qualidade. Além disso, a remissão clínica pode ser uma realidade para gatos que sejam diagnosticados numa fase precoce.
O hipertiroidismo é a doença endócrina mais frequente nos gatos e, como o nome indica, afeta a glândula Tiroide.
A tiroide é composta por duas pequenas glândulas localizadas (uma de cada lado) na zona mais frontal da traqueia. A tiroide é responsável pela produção das hormonas tiroideas, que interferem em muitas das funções do organismo. O controlo do metabolismo, constitui uma das mais importantes.
De uma forma muito simplista, a tiroide é de extrema importância para o correto funcionamento da maioria dos órgãos do corpo. Nos animais com hipertiroidismo existe um excesso de hormonas tiroideas em circulação.
Quais são as causas principais do Hipertiroidismo felino?
Esta patologia surge normalmente devido a um aumento do volume da tiroide (habitualmente o aumento é bilateral e afeta ambas as glândulas). Este aumento deve-se quase sempre a um tumor benigno (Adenoma), sendo muito raros (menos de 2%) os casos em que existe um tumor maligno (Carcinoma).
Atualmente não se conhece a causa exata do aparecimento deste tipo de tumores benignos. Contudo, pensa-se que alguns fatores possam contribuir, como são o caso de:
exposição continuada a substâncias tóxicas para a tiroide, quer ambientais (ex.: poluição; constituintes de algumas areias para gatos; tóxicos vários), quer alimentares (excesso ou deficiência de compostos presentes em alimentação comercial enlatada, bem como substâncias tóxicas, alterações genéticas, fatores imunológicos, idade mais avançada.
O hipertiroidismo pode surgir tanto em machos como em fêmeas, não havendo preferência de raça. Contudo, afeta principalmente gatos de meia idade ou idosos. A idade média do aparecimento dos primeiros sintomas é 12-13 anos, sendo invulgar em gatos com menos de 10 anos.
Sintomas
As hormonas tiroideias são fundamentais para o funcionamento de quase todos órgãos, e essenciais no controlo do metabolismo basal corporal. Por este motivo, ao existir um aumento destas hormonas em circulação, haverá um aumento do metabolismo basal, com aumento de consumo rápido de energia. Inicialmente os sintomas são subtis e ligeiros (comuns a muitas patologias felinas), agravando-se à medida que a doença evolui.
Inicialmente observam-se sintomas como:
perda de peso e perda de massa muscular
aumento do apetite
hiperatividade
aumento da ingestão de água, e por sua vez da produção de urina
pelagem sem brilho e com mau aspeto
aumento da tiroide alterações à auscultação cardíaca (aumento da frequência cardíaca, sopros cardíacos, arritmias- Ritmo de galope audível à auscultação)
Com a evolução da doença, surgem também:
vómito, diarreia, doença respiratória (dificuldade respiratória, frequência respiratória aumentada, espirros e tosse), alterações de comportamento (agressividade; incapacidade em descansar), convulsões.
Doenças concomitantes podem surgir, uma vez que o hipertiroidismo pode predispor os gatos a outras patologias, como: doenças cardíacas, doença renal crónica, diabetes, má absorção gastrointestinal.
Os sintomas são vários e inespecíficos, pelo que o correto diagnóstico, bem como o diferenciar de outras patologias, são fundamentais. O médico veterinário assistente deve ser sempre consultado quando se observam alterações no gato.
O hipertiroidismo é uma doença grave. Se não tratada, é normalmente fatal devido às alterações graves que causa em múltiplos órgãos vitais.
Diagnóstico
A avaliação dos sintomas descritos e um exame físico completo, são os primeiros passos para a avaliação do estado de saúde do seu gato. Muitas vezes, durante o exame físico é possível palpar uma glândula tiroide aumentada típica de hipertiroidismo.
O diagnóstico de hipertiroidismo é feito através de análises laboratoriais que avaliam a concentração da hormona tiroideia na corrente sanguínea. Devido ao excesso de produção de hormona tiroideia, em mais de 90% das situações é possível alcançar um diagnóstico preciso.
A maioria dos gatos com hipertiroidismo apresenta níveis elevados da hormona tiroideia na corrente sanguínea. Contudo, uma pequena percentagem de gatos com hipertiroidismo pode apresentar valores normais.
Em caso de suspeita forte de hipertiroidismo, e na ausência de valores aumentados da hormona tiroideia, o seu Médico Veterinário poderá recomendar testes adicionais.
Devido ao papel da glândula tiroide no organismo, alguns gatos com hipertiroidismo poderão desenvolver doença cardíaca e hipertensão. Desta forma, o seu Médico Veterinário poderá aconselhar que seja feita alguma investigação para despiste destas condições. Eventualmente poderão ser necessárias terapêuticas adicionais para controlar doenças secundárias.
Tratamento
O hipertiroidismo é uma condição tratável e, dependendo do tratamento realizado, pode ser curável.
As opções de tratamento para o hipertiroidismo incluem o recurso a medicação, terapia com iodo radioativo, cirurgia ou recurso a uma dieta terapêutica. A escolha do tipo de tratamento não é simples. Todas as opções de tratamento têm as suas vantagens e desvantagens. A escolha requer a consideração de algumas particularidades como a saúde geral do paciente, as características dos procedimentos terapêuticos, a capacidade e disponibilidade do tutor administrar regularmente medicação e exige também algumas considerações financeiras.
Medicação
A administração de medicação anti-tiroideia é possivelmente uma das terapêuticas mais comuns no maneio do hipertiroidismo. A medicação atua através da redução da produção e libertação de hormona tiroideia a partir da glândula tiroide.
A administração da medicação anti-tiroideia não promove a cura do hipertiroidismo. No entanto permite um bom controlo da doença e dos sinais clínicos a curto e a longo-prazo. Geralmente são obtidas boas taxas de resposta à medicação, com a facilidade de se poder medicar os pacientes sem necessidade de hospitalização.
O recurso à medicação anti-tiroideia advém sobretudo da facilidade em obter a medicação e do seu, geralmente, custo acessível. Contudo, o tratamento com medicação implica a sua administração diária, durante toda a vida do paciente.
Existem diferentes formulações, desde comprimidos a soluções orais. Dada a natureza dos felinos e das muitas dificuldades dos tutores em administrar comprimidos, as soluções orais poderão ser mais convenientes e permitir melhor compliance terapêutica.
Independentemente do tipo medicação utilizada, é necessário manter um controlo rigoroso dos níveis da hormona tiroideia durante o tratamento. Este controlo exige assim visitas regulares ao Médico Veterinário.
Quando se encontra disponível, a terapia com iodo radioativo é o tratamento de eleição para gatos com hipertiroidismo.
Infelizmente, até ao momento esta terapêutica não se encontra disponível em Portugal.
Cirurgia
A remoção cirúrgica das glândulas tiroides, denominada tiroidectomia, é uma cirurgia relativamente acessível e com boas taxas de sucesso. A cirurgia permite uma cura, na maioria dos casos, permanente, evitando assim a necessidade de medicação a longo prazo.
Dado tratar-se de um procedimento cirúrgico, requer hospitalização e uma anestesia geral. Por este motivo pode não ser favorável em pacientes idosos, com doenças cardíacas, renais, ou outras que possam apresentar um risco anestésico.
Dieta terapêutica
Existe também uma dieta especificamente formulada para gatos com hipertiroidismo, baseada numa restrição de iodo. A dieta poderá ser útil em gatos exclusivamente de interior e únicos na habitação. Este tipo de dieta estabiliza os níveis da hormona tiroideia antes de uma intervenção cirúrgica. Por outro lado, podem ser útil quando os gatos apresentam outras condições que tornam outras terapêuticas impossíveis.
A leishmaniose canina é uma doença parasitária (provocada por protozoários) transmitida pela picada de flebótomos (similares a mosquitos).
Em Portugal a leishmaniose surge esporadicamente em todo o país, sendo mais frequente nas regiões do Vale do Tejo e Sado, Alto Douro e Algarve.
Geralmente, a doença surge em cães com pêlo curto e/ou vivem no exterior, desta forma, estão mais expostos às picadas.
O ciclo de desenvolvimento dos flebótomos está ligado à temperatura do ambiente. De projeções feitas em Portugal conclui-se que, a manter-se a tendência do aquecimento global, os períodos favoráveis à transmissão da leishmaniose terão tendência a aumentar, conduzindo, assim, ao aumento da casuística a médio/longo prazo.
A leishmaniose pode ser transmitida aos humanos através da picada do flebótomo, no entanto, habitualmente só afeta pessoas com o sistema imunitário fragilizado. Os indivíduos seropositivos e crianças muito pequenas são os grupos mais vulneráveis.
Apesar disso, a transmissão ao homem nos países desenvolvidos é muito rara.
Quando o flebótomo pica o cão, as leishmanias são inoculadas, com a saliva do inseto, na camada interna da pele – a derme. As leishmanias passam para esta camada graças a umas células especiais do sistema imunitário do cão – os macrófagos, que, ao invés de destruírem os parasitas, funcionam como locais de multiplicação para estes. Os macrófagos acabam por ser destruídos e libertam um número elevado de leishmanias que vão infetar outras células. Posteriormente ocorre a disseminação das mesmas pelo organismo do animal.
A leishmaniose canina é geralmente uma doença crónica, cujos sinais clínicos podem desenvolver-se entre 3 meses a 7 anos após a infeção. Nos cães, as lesões nos rins frequentemente levam ao desenvolvimento de insuficiência renal crónica (IRC).
Alguns cães desenvolvem ulcerações (feridas) no nariz e pavilhões auriculares, bem como lesões oculares e cutâneas. O crescimento exagerado das unhas, o corrimento nasal sanguinolento, a perda de peso e a atrofia muscular são dos sintomas mais frequentes encontrados nestes pacientes.
O tratamento de um cão com leishmaniose consiste em estabilizar o estado geral do animal e controlar o desenvolvimento do parasita no seu organismo.
Uma vez que os tratamentos existentes atualmente não permitem eliminar a doença de forma definitiva, a prevenção é a medida mais importante para a saúde dos animais.
É essencial o uso de produtos antiparasitários nos animais (coleiras e pipetas) que diminuem consideravelmente a probabilidade das picadas dos flebótomos.
É importante, também, evitar os passeios nas horas de maior atividade dos flebótomos (ao amanhecer e entardecer) nas áreas identificadas como críticas.
Atualmente, em Portugal já estão disponíveis duas vacinas contra a leishmaniose canina, fazendo parte do plano vacinação anual dos animais.
O parvovírus foi descoberto em 1978 após um surto de gastroenterite aguda nos Estados Unidos ter chamado a atenção da comunidade veterinária. Este vírus replica-se no núcleo de células de multiplicação rápida e é uma ameaça grave e mortal para um cachorro ou um cão que não tenha sido vacinado.
As fezes contaminadas são a fonte primária de infeção da parvovirose canina. Após a exposição oral, o vírus infeta os linfonodos regionais da faringe e amígdalas. A partir daí, o vírus espalha-se pela circulação (fase de virémia) e invade vários órgãos, incluindo o baço, os linfonodos, a medula óssea, os pulmões, o miocárdio e finalmente o intestino (jejuno distal e o íleo), onde continua a replicar-se. A replicação causa a necrose do epitélio do intestino delgado. O vírus também pode causar lesões em outros órgãos, contribuindo para múltiplos sintomas como linfopenia, miocardite e sintomas respiratórios.
A parvovirose manifesta-se de duas formas: a forma entérica e a forma miocárdica. A forma entérica é mais frequentemente reconhecida devido aos sintomas de gastroenterite severo. A doença é altamente contagiosa e rapidamente evolui para gastroenterite hemorrágica afetando, normalmente, cachorros com mais de 3 semanas de idade. A forma miocárdica é, geralmente, diagnosticada no post-mortem, pois a maioria dos animais morre subitamente sem mostrar sinais clínicos.
Os sinais físicos da parvovirose canina geralmente aparecem cinco a sete dias após a exposição ao vírus. Os animais apresentam vómito, diarreia grave (normalmente com sangue), perda de apetite, prostração, temperatura corporal alta, entre os 40ºC a 41ºC, podendo, em alguns casos críticos, apresentar temperatura baixa. A maioria das mortes por parvovírus canino ocorre entre as 48 a 72 horas depois do aparecimento dos sinais clínicos.
O vírus é extremamente resistente, pode sobreviver ao calor intenso e a temperaturas muito baixas por vários meses (até seis meses em muitos casos), dependendo do tipo de ambiente onde vive o animal. Por isso é aconselhável fazer desinfeção repetida durante algum tempo, para garantir a eliminação completa do vírus.
O tratamento para a parvovirose canino deve começar imediatamente. Consiste, basicamente, em combater a desidratação, substituindo os fluidos e eletrólitos perdidos, controlar o vómito, a diarreia e prevenir infeções secundárias. A vacinação precoce é a forma mais eficaz para prevenir a contaminação dos animais e propagação do vírus.
A leptospirose é uma doença infeciosa causada por uma bactéria pertencente ao género Leptospira. Estas bactérias estão disseminadas por todo o mundo e existem diferentes tipos. Este género de bactéria inclui cerca de 25 serogrupos diferentes e, cada serogrupo, inclui vários serovares distintos. Existem mais de 250 serovares diferentes de Leptospira. De uma forma muito simplista, afirmamos que existem várias espécies de leptospira e cada uma tem diferentes subespécies.
Consoante a zona geográfica assim teremos diferentes serovares presentes. Isto é, uns serovares são mais frequentes numas zonas e outros em outras áreas geográficas. Também se sabe que alguns serovares são mais agressivos que outros.
São bactérias que conseguem sobreviver por um período considerável de tempo no meio ambiente, em condições de humidade elevada e temperatura moderada. Por este motivo, períodos de chuvas e/ou cheias, em alturas do ano amenas e húmidas, teremos mais casos clínicos registados.
A Leptospira pode infetar e causar doença na maioria dos mamíferos. Os cães e gatos podem ser afetados, embora, no caso dos gatos, isto seja muito raro.
A leptospirose é uma doença grave, que se pode manifestar de várias formas. No caso dos cães podemos ter animais assintomáticos ou com sintomatologia ligeira e inespecífica, até casos muito graves que conduzem à morte.
Consoante o serovar responsável, o quadro clínico e o prognóstico é variável. Segundo alguns estudos a mortalidade pode ir até 50%.
Não existe uma predisposição de raça, idade ou sexo nesta patologia.
O contacto com águas contaminadas (quer nadando, quer bebendo) ou com ambientes contaminados, é um foco de infeção. Explorações pecuárias, plantas, objetos ou lixo contaminados, parques urbanos, onde normalmente existem roedores, são zonas de risco.
Nesta doença, os animais que são portadores assintomáticos, transformam-se em reservatórios destas bactérias, eliminando-as para o meio ambiente através da urina e outras secreções corporais. É o caso de muitos roedores (ratos e ratazanas), e também outros animais silvestres e animais que tenham recuperado da doença. Estes, durante um período, mesmo clinicamente recuperados, podem eliminar a bactéria para o ambiente.
É importante referir que a espécie humana pode igualmente ser infetada. Trata-se de uma zoonose, pois animais doentes podem contaminar as pessoas. Os humanos podem contrair leptospirose tal como os cães, contactando com urina e outras secreções corporais de animais infetados. O contacto com objetos contaminados com este tipo de fluidos também pode ser um foco de infeção.
Em Portugal, tendem a surgir mais casos de leptospirose canina nos meses de outono, estação durante a qual a temperatura ambiente é adequada para a sobrevivência das leptospiras. Estas, apesar de não se multiplicarem fora de um hospedeiro, tendem a sobreviver em águas estagnadas ou correntes lentas. As leptospiras podem manter-se na água e em solo molhado durante longos períodos de tempo.
Neste sentido, podem considerar-se fatores de risco acrescido:
cães que tenham acesso e bebam água de fontes não tratadas, como rios e lagos;
cães expostos a animais selvagens e roedores, como cães utilizados em caça e que habitem em quintas ou zonas rurais;
cães que nadem em águas não tratadas, estagnadas ou pantanosas;
cães que habitem exclusivamente no exterior;
cães que viajem para localidades rurais;
cães que tenham contacto com animais de produção.
Um cão infetado com esta doença pode apresentar sintomatologia muito variada, desde sintomatologia ligeira e não específica até falhas multi-sistémicos, como, por exemplo:
anorexia (falta de apetite)
febre
fraqueza muscular e dores musculares
prostração
vómitos
diarreia
desidratação
icterícia (pele e mucosas com coloração amarela)
alterações da coagulação (raras nos cães)
alteração na produção de urina (pode aumentar ou diminuir drasticamente)
aumento na ingestão de água
insuficiência hepática
insuficiência renal
dificuldade respiratória (hemorragias pulmonares).
O diagnóstico faz-se através de análises laboratoriais sorológicas e análises que detetem o agente infecioso ou o DNA deste. Estas análises são feitas em amostras de sangue, urina ou tecidos recolhidos.
É muito importante o recolher de uma história clínica (saber quais os ambientes que o animal frequenta e desde quando apresenta sintomas), o completo exame físico bem como o estado vacinal do cão examinado.
Importantes são, igualmente, a realização de exames auxiliares de diagnóstico como análise completa sanguínea (hemograma e perfil bioquímico para avaliar a função de vários órgãos), ecografia abdominal e RX do tórax. Estes últimos são fundamentais para se proceder em seguida ao tratamento mais adequado a cada caso clínico.
Em casos onde o animal apresenta insuficiência renal e/ou hepática normalmente são necessárias hospitalização e medidas de suporte mais ou menos complexas. Infelizmente nem todos os animais recuperam. A morte é um desfecho em alguns casos, onde as lesões causadas são irreversíveis.
Não esquecer que durante o tratamento de cães com leptospirose, o cuidado e proteção do pessoal técnico (médico veterinário e enfermeiros) e dos tutores destes pacientes é fundamental para evitar infeção. Uso de luvas, desinfeção de mãos e evitar o contacto de pele e mucosas com urina destes pacientes é fundamental. A desinfeção das instalações dos cães em tratamento é necessária e é eficaz na eliminação das bactérias excretadas.
A vacinação é uma ferramenta importante na prevenção da doença. A partir das 8 semanas de idade é recomendável iniciar a vacinação contra leptospirose. Quer em cachorros, quer em cães adultos são necessárias duas administrações com intervalo de 3-4 semanas.
A vacinação garante imunidade durante pelo menos 12 meses. A revacinação anual de cães em situações de risco é aconselhável. Cães que tenham sido previamente infetados por Leptospira spp e que tenham recuperado da doença também devem ser revacinados anualmente.
A vacinação dos cães tem também sérias implicações na saúde pública. Uma vez que a leptospirose é uma zoonose, doença passível de ser transmitida a humanos.
A vacinação é um método útil de prevenção da infeção de outros cães e de pessoas. A vacinação interrompe o ciclo de transmissão do agente infeccioso a animais e pessoas, diminuindo a disseminação ambiental.
A Esgana é uma doença infecciosa e altamente contagiosa causada por um vírus chamado Morbilivírus, que afeta o sistema respiratório, digestivo e neurológico do cão, sendo na maioria das vezes fatal.
O vírus pode atingir animais de qualquer idade, contudo, acomete maioritariamente cachorros não vacinados entre os 3 e os 6 meses de idade.
A doença é transmitida através de secreções, principalmente das vias respiratórias. O vírus é captado pelas células do sistema imunitário do cão e é transportado por todo o organismo através do sistema linfático. Após uma semana o vírus atinge os sistemas respiratório, digestivo e nervoso provocando os primeiros sintomas.
Os cachorros afetados têm uma alta taxa de mortalidade e, mesmo os animais que recuperam desta doença, muitas vezes ficam com sequelas, sendo as mais vulgares tiques musculares.
A febre é o primeiro sinal da doença - aparece normalmente 3 a 6 dias após a contaminação. Após a febre, os sintomas podem variar bastante, dependendo da estirpe do vírus e do sistema imunitário do animal.
Os sintomas mais comuns são o corrimento ocular e nasal, diarreia e vómitos, anorexia e prostração, bronco-pneumonia e sinais neurológicos nos casos de esgana nervosa, envolvendo paralisia, tiques nervosos e convulsões nos casos mais graves.
O diagnóstico de esgana é baseado no historial clínico do animal e análises clínicas.
Uma vez que não existe nenhum tratamento específico, pretende-se manter o animal hidratado e nutrido, fazendo tratamento sintomático com antibióticos, antieméticos e medicamento para controlar as alterações neurológicas.
A vacinação é o principal método para a prevenção da doença. Os cachorros devem ser vacinados entre 4º e 6º semana de vida, seguindo um protocolo vacinal adequado.
É muito importante não expor os animais novos aos outros não vacinados até serem realizadas as vacinas e os respetivos reforços.
A raiva canina é uma das principais e mais conhecidas zoonoses (doenças e infeções que se transmitem entre os animais vertebrados e o homem). A raiva é uma doença infetocontagiosa aguda, causada por um RNA-vírus da família Rhabdoviridae do Gênero Lyssavirus, que atinge de maneira letal o sistema nervoso do indivíduo infetado, e acomete todas as espécies de mamíferos, inclusive o homem.
O vírus penetra com a saliva nos tecidos lesionados por dentadas ou lambeduras de animais infetados. Após infeção com o vírus, este multiplica-se nos linfonodos espinhais, posteriormente migra para o encéfalo e depois de uma segunda fase de multiplicação, começa a difusão do vírus através de vias nervosas.
Existem 2 formas de raiva canina: a furiosa e a paralítica. A forma furiosa caracteriza-se por agitação, agressividade, anorexia pela dificuldade de deglutição, latido bitonal, paralisia, coma e morte.
Na forma paralítica, ao contrário da furiosa, não há agitação nem agressividade. O cão sofre de fotofobia e tenta a isolar-se e esconder-se em locais escuros. Mais tarde surgem paralisia de patas traseiras, que progride e leva o animal à morte.
A duração da doença é de 3 a 7 dias. O perigo de transmissão do vírus ocorre antes do aparecimento dos sintomas e durante o período da doença. No cão e gato este período inicia-se de 5 a 3 dias antes do aparecimento dos sintomas. O período de incubação do vírus após a infeção pode variar entre os 20 a 60 dias.
O diagnóstico da raiva é feito tendo em conta o quadro clínico do animal, o historial e análises sorológicas e/ou histológicas.
Apesar de ser uma doença zoonótica, o risco de raiva é praticamente inexistente nas zonas urbanas. No entanto, a natureza sempre permanecerá como um reservatório natural do vírus da raiva, sendo os animais selvagens o elo de ligação entre o vírus e animais de estimação.
A vacinação antirrábica é obrigatória em Portugal e deverá ser aplicada até aos 6 meses de vida do animal, reforçando anualmente ou conforme o plano de vacinação do animal.
A Tosse do canil ou Traqueobronquite infecciosa canina (TIC) é uma inflamação da traqueia e dos brônquios causada por variados agentes infecciosos, nomeadamente diversos vírus, como o vírus da Parainfluenza, o Reovirus, o Adenovírus tipo 2 e a bactéria Bordetella bronchiseptica.
A TIC é uma doença altamente contagiosa e propaga-se via aérea entre os cães. A doença tem maior prevalência em ambientes fechados onde haja uma grande concentração de canídeos (daí a origem do nome popular - Tosse do canil).
Em alguns casos a TIC é autolimitante e os animais recuperam em poucos dias sem precisar de antibioterapia. No entanto, em caso de persistência ou agravamento da tosse os donos devem imediatamente procurar ajuda junto do médico veterinário assistente para diagnosticar e tratar corretamente a patologia, evitando o risco de uma broncopneumonia bacteriana.
Normalmente, os animais apresentam os primeiros sintomas entre 3 a 10 dias após a infeção ter ocorrido, podendo persistir até 3 a 4 semanas. Dos sintomas destacam-se as crises de tosse seca deixando os proprietários com a impressão de que estão com algo a bloquear a garganta. Esta tosse seca, as vezes é seguida de um vómito incompleto. Uma descarga nasal aquosa também pode aparecer. Em casos menos graves os animais continuam a comer e mantêm-se alertas e ativos.
Fatores ambientais como, produtos de limpeza a base de químicos irritantes para as vias respiratórias, poeira e alterações bruscas de temperatura também podem predispor os animais a crises de tosse favorecendo a penetração de microrganismos patogénicos.
O diagnóstico baseia-se nos sintomas e no historial recente do animal. Muitas vezes o facto de terem estado em contacto com outro animal com sintomas semelhantes é suficiente para o diagnóstico e tratamento. Em alguns casos mais agudos é necessário fazer análises adicionais para identificar o agente causador e a respetiva sensibilidade aos antibióticos.
Para uma boa prevenção é importante incluir a vacina contra a TIC no protocolo de vacinação do animal, bem como evitar a exposição do animal aos outros que tenham sintomas suspeitos ou, eventualmente, não tenham o seu plano de vacinação em dia, principalmente quando se tratar de um cachorro.
É importante que sempre que deixar o seu cão num hotel canino ou canil, lhe seja exigida a vacinação contra a tosse do canil, pois significa que todos os animais que lá estão se encontram protegidos e o risco de ocorrer infeção por TIC é muito reduzido.
As carraças podem indiretamente ser veículos de transmissão de vírus, riquetsias, bactérias e protozoários responsáveis por algumas patologias graves, das quais se destacam a Erliquiose e a Babesiose, duas patologias distintas provocadas por uma riquetsia (Ehrlichia spp) e um protozoário (Babesia spp) respetivamente, vulgarmente designadas “febre da carraça”.
Estas doenças surgem principalmente nos meses em que existem mais carraças (durante a primavera e verão). No entanto, na zona sul de Portugal e em zonas com clima mais ameno, também podem surgir no outono e inverno.
As picadas das carraças podem resultar em feridas suscetíveis a infeções secundárias bacterianas e não só. Reações alérgicas e alterações dermatológicas graves são muito frequentes em clínicas veterinárias nesta altura do ano.
É importante saber que não são os cães e os gatos que nos transmitem as carraças nem, muito menos, a febre da carraça. A febre da carraça só é transmitida pela própria carraça. Ou seja, um cão infetado não vai transmitir a doença ao dono.
Os animais com “febre da carraça”, entre outros, podem apresentar seguintes sintomas: febre, anemia, prostração, falta de apetite, etc. As Babesias invadem os glóbulos vermelhos levando à sua destruição direta provocando desta forma anemia. Por outro lado as Erlichias são bactérias que parasitam os glóbulos brancos. Numa fase seguinte a estimulação do sistema imunitário leva à destruição dos glóbulos vermelhos e plaquetas provocando respetivamente anemia e trombocitopénia, para além de outros problemas conhecidos como artrite, insuficiência renal, hepática, alterações oftalmológicas, e outras.
O diagnóstico pode ser feito na clínica veterinária mediante visualização direta do agente causador em esfregaço sanguíneo (especialmente no caso da Babesiose). Mas outros testes, como serologia e PCR podem ser necessários.
O tratamento envolve administração de antiparasitários injetáveis e/ou antibióticos específicos. Cães muito debilitados podem necessitar de hospitalização por vários dias, fluidoterapia e transfusões sanguíneas.
O prognóstico é variável. Os animas diagnosticados precocemente possuem melhor prognósticos do que os animais com vários dias de evolução ou com doença sistémica concomitante como insuficiência renal ou pancreatite. Infelizmente, alguns casos podem mesmo levar à morte do animal.
A maneira mais eficaz de prevenir estas doenças é através da vacinação e uso de parasiticidas externos adequados.
É fundamental aplicar um bom produto antiparasitário com regularidade correta para evitar a infestação por carraças.
Existem muitos produtos no mercado para esse efeito com eficácia variada, sendo que na escolha deve ter em conta as particularidades do seu animal e as condições do ambiente onde ele está inserido.
A epilepsia é uma doença caracterizada por ataques epiléticos (convulsivos ou não convulsivos), que ocorrem com maior ou menor frequência.
A epilepsia pode ser idiopática (significa sem causa conhecida). Esta é a forma mais comum de ataques epilético nos cães. No caso da epilepsia idiopática, o início das crises epiléticas ocorre normalmente, em animais adultos jovens entre 1 e os 5 anos de idade. Este tipo de epilepsia pode ter uma componente hereditária nalgumas raças, como o Pastor Alemão, Labrador Retriever, Beagle, Collie, São Bernardo, entre outras. No entanto, esta doença pode afetar qualquer raça ou cruzamento.
A epilepsia pode ser também secundária a doença intra-craniana, sendo este tipo de epilepsia mais frequente em gatos, cães idosos ou cães muito jovens. Neste caso, os sintomas são causados por problemas estruturais a nível cerebral, como por exemplo doenças inflamatórias ou infeciosas que deixam cicatrizes no cérebro, lesões após traumatismo cerebral, tumores cerebrais ou malformações congénitas.
É importante compreender que, havendo epilepsia, temos quase sempre ataques epilético sob a forma de convulsões, mas também podem haver convulsões sem haver epilepsia.
Existem situações, em que o animal pode apresentar convulsões e não ser epilético, como por exemplo, devido a intoxicações, doenças metabólicas ou traumatismos. Nestes casos, para além das convulsões, os pacientes apresentam outros sintomas. Isto é diferente do animal com epilepsia idiopática que não tem sintomas nos períodos entre “ataques”.
É muito importante que rapidamente se consigam excluir todas as outras causas de convulsões, de forma a se poder esclarecer se estamos perante um animal com ou sem epilepsia.
No caso dos animais epiléticos, importa ao tutor saber o que é um ataque epilético e entender as suas diferentes fases. É muito raro que ocorra à frente do médico veterinário, aquilo que a família do paciente descreve como sendo um “ataque”. Sempre que possível, deverão filmar o episódio do ataque, de forma a ser possível ao clínico visualizá-lo.
Um ataque epilético convulsivo ou convulsão é um episódio de atividade elétrica anormal no cérebro. Geralmente, numa convulsão epilética, o acontecimento é descrito como havendo perda ou alteração da consciência, movimentos/contrações musculares descontrolados, defecação e micção involuntária. A duração média do episódio é de 1 a 2 minutos. Mas as convulsões não se limitam aos sintomas mais visíveis. Na verdade, cada convulsão pode ser dividida em 3 partes:
um período antes da convulsão (chamado Fase Pré-ictus ou Aura): pode ser rápido e impercetível nalguns casos ou demorado e com alterações visíveis noutros. Ao serem conhecidos os sinais desta fase, a família pode conseguir prever o início de uma convulsão. Podem verificar-se comportamentos fora do normal, como ganir, agitação e ansiedade (alguns animais escondem-se ou deambulam sem grande orientação), podem ainda salivar em excesso ou lamber-se intensamente.
Em seguida surge a convulsão propriamente dita (Fase Ictus): normalmente ocorre perda de consciência (embora alguns possam permanecer alerta mas ansiosos e com tremores generalizados). Outros sintomas incluem alterações do tónus muscular e movimentos descoordenados (podem ficar deitados de lado e mover os membros como se estivessem a correr), movimentos de mastigação involuntários (podem morder a própria língua), salivação excessiva (muita espuma em torno da boca) e a grande maioria defeca e urina nesta fase. Esta fase dura desde alguns segundos a poucos minutos.
Por fim, a última fase (Pós-Ictus): pode durar apenas uns segundos até a algumas horas ou dias. É a fase desde a convulsão até à recuperação do estado normal do animal. Alterações de comportamento, como desorientação ou até alguma agressividade e ansiedade, cegueira transitória, sede excessiva ou apetite voraz, alterações de equilíbrio e coordenação ou sonolência, são alguns dos sintomas mais usuais.
Na grande maioria dos casos, estas crises são isoladas e esporádicas (mais ou menos frequentes dependendo de cada caso). Convém determinar com exatidão com que frequência ocorrem. Nalgumas situações, o paciente pode ter convulsões seguidas e muito próximas, de tal forma que não chega a recuperar o estado normal entre elas, designando-se este quadro por status epiléticos, sendo urgente a assistência médico-veterinária nestes casos.
A epilepsia é uma doença crónica, pelo que os “ataques” se vão repetir, normalmente em intervalos regulares de semanas ou meses entre convulsões. A frequência e a severidade das crises têm tendência a aumentar à medida que o animal vai envelhecendo, principalmente em cães de raça de grande porte.
É de extrema importância que consulte o seu médico veterinário assistente, assim que se verifique qualquer convulsão, e descreva todo o episódio, para rapidamente se poder proceder ao diagnóstico e instituição de terapêutica adequada se assim for necessário.
A medicação antiepilética é diária e contínua. Na maioria dos casos o que se regista é uma diminuição significativa quer da frequência quer da duração/severidade dos episódios. Hoje em dia já existe medicação específica para cães na área de epilepsia.
Apesar de não haver cura definitiva para a epilepsia, os animais que sejam correctamente acompanhados e medicados, poderão ter uma boa qualidade de vida.
Como se diagnostica a epilepsia?
A maioria dos cães que são diagnosticados com epilepsia têm epilepsia primária (também chamada de epilepsia idiopática, por não ter uma causa identificável).
A epilepsia pode afetar a generalidade dos cães, contudo é mais comum em cães jovens, com idades compreendidas entre os 1 e os 5 anos, e existe prevalência em nalgumas raças como: Labrador Retriever, Golden Retriever, Pastor Alemão, Boxer, Beagle, Poodle e o Irish Setter.
Embora menos comum, cães com idades inferiores ou superiores às descritas também podem ser afetados por epilepsia.
Infelizmente não existe um único teste de diagnóstico que permita identificar a epilepsia primária nos animais. Assim sendo, o diagnóstico é feito por exclusão de outras condições e para tal, o seu médico veterinário contará com a descrição dos acontecimentos por parte do tutor, da história clínica anterior, de um exame físico e neurológico completo e de um conjunto de análises e exames que permitam despistar outras condições que também possam ocasionar ataques epilépticos .
É comum que cães com epilepsia primária não tenham qualquer alteração nos resultados das análises laboratoriais ou tenham alterações muito ligeiras. Em muitos casos, o médico veterinário pode sugerir que consulte um especialista em neurologia e que seja feita uma ressonância magnética para avaliar a presença de lesões cerebrais.
Cães com epilepsia são saudáveis e normais em todos outros aspetos. Apesar de não haver uma cura, existe tratamento para a epilepsia que é mantida ao longo da vida do cão. A maioria dos cães e as suas famílias conseguem manter uma vida saudável e feliz.
Como posso ajudar durante uma convulsão?
É difícil estar realmente preparado para um episódio convulsivo. Contudo há certas medidas que podemos tomar para ajudar a controlar a situação e promover uma recuperação tranquila.
Em primeiro lugar, ao tomar conhecimento que o seu cão está a ter um ataque epilético convulsivo, deve tentar manter a calma e não atuar de “cabeça quente”. Os episódios convulsivos podem ser visualmente impressionantes e até assustadores mas lembre-se que o seu cão não está consciente e que não está a sentir dor.
Com calma, aproxime-se do seu cão e verifique se está numa zona e posição segura. Se possível afaste objetos próximos com os quais possa embater ou derrubar (móveis, mesas, escadas, candeeiros ou fios elétricos) e causar lesões.
Lembre-se que, numa convulsão, há uma atividade cerebral anormalmente aumentada e por isso é vantajoso diminuir o número de estímulos sensoriais: apague as luzes, desligue a televisão e tente minimizar o barulho ambiente. Um ambiente tranquilo promove uma melhor recuperação.
Se tiver outros animais presentes ou crianças, retire-os do local se possível. O cenário causa ansiedade em todos os presentes e dado que, após a convulsão, o seu cão pode estar desorientado, deve assegurar-se que pode recuperar com calma e sem grande agitação.
É importante mencionar que não deve colocar a sua mão na boca do seu cão; o seu cão não vai engolir a língua, mas lembre-se que o seu cão não está a controlar os movimentos da sua mandíbula e pode acabar por mordê-lo sem querer.
Não levante nem se agarre ao seu cão durante uma convulsão. Como referido, é comum os cães ficarem num estado de desorientação ao recuperar da convulsão e poderão mesmo manifestar algum tipo de agressão. Além disso, muitas vezes há perda de controlo dos esfíncteres e acabam por libertar fezes e urina durante as convulsões, pelo que poderá ficar bastante sujo.
Tente tomar nota do máximo de detalhes possíveis: hora de início e duração do episódio, alterações comportamentais antes, tente descrever a convulsão e o tipo de movimentos que ocorreram, bem como o comportamento do seu cão no período após a convulsão.
Se possível, filme ou peça para filmar a convulsão. Ter um registo destes pode fornecer uma ajuda valiosa ao seu médico veterinário e ajudar a orientar e adaptar o tratamento.
Na eventualidade de já ter conhecimento da condição, segundo as indicações do seu médico veterinário, poderá utilizar a medicação recomendada para uma situação de convulsão.
Geralmente as convulsões não são episódios longos e duram poucos minutos. No entanto, caso a convulsão tenha uma duração superior a 5 minutos ou o seu cão tenha duas ou mais convulsões em menos de 24 horas procure cuidados médico-veterinários.
O que é e para que serve um diário de convulsões?
Manter um registo de ataques epilépticos convulsivos é uma ferramenta muito útil para compreender e acompanhar de forma mais próxima a condição do seu cão.
Anotar a hora de início e fim da convulsão, os comportamentos antes e após a convulsão e registar o número de convulsões por mês permite-lhe a si e ao seu médico veterinário reconhecer eventuais padrões na epilepsia do seu cão e resposta ao tratamento.
Apontar as alterações comportamentais antes e após cada convulsão pode ajudar a reconhecer eventuais convulsões futuras e como o seu cão irá reagir ao recuperar; ao mesmo tempo, permite ter uma noção da duração dos episódios convulsivos.
Uma outra vantagem de um diário de convulsões é que, registar o número de convulsões por mês, permite-lhe acompanhar a condição, avaliando a sua evolução ao longo do tempo. Pode comparar o número de convulsões com os meses anteriores e perceber se estão a aumentar ou diminuir de frequência. Para o seu médico veterinário, estas são informações podem ser essenciais para reconhecer a necessidade de ajustar a medicação.
Existem diversas formas de acompanhar e manter um registo dos episódios convulsivos. Pode socorrer-se de um suporte físico, uma tabela em papel, ou utilizando mesmo o seu telemóvel para registar estes dados.
Hoje em dia, existem até aplicações móveis que permitem registar informações e acompanhar os planos de tratamentos veterinários. Podem revelar-se ferramentas muito útil para registar os episódios convulsivos. Em papel ou digital, o essencial é manter sempre atualizado o diário de convulsões do seu cão.
A dirofilariose é causada pelo parasita Dirofilaria. Existem diferentes espécies deste verme redondo, no entanto, as mais comuns são a Dirofilaria immitis e a Dirofilaria repens.
A forma mais usual e grave é causada por D. immitis. Por muitos denominada doença do “parasita do coração”, a dirofilariose é transmitida através da picada de mosquitos infetados com larvas de dirofilaria.
Esta doença afeta essencialmente cães e felinos (domésticos e silvestres). No entanto, os humanos também podem ser infetados com o parasita, apesar de nestes casos o parasita não conseguir atingir a sua forma adulta.
Os cães são suscetíveis à infeção independentemente da idade. Já os gatos são os hospedeiros mais resistentes à doença e apresentam sintomatologia menos específica, sendo que muitos permanecem assintomáticos durante longos períodos. Por este motivo, o diagnóstico nos gatos é mais difícil.
Como se transmite a dirofilariose?
Esta doença não se transmite diretamente de um animal para outro, pelo que é necessário um hospedeiro intermediário, que neste caso é o mosquito. No nosso país existem várias espécies diferentes de mosquitos capazes de transmitir a doença.
Quando um mosquito infetado com larvas de dirofilaria pica um cão, as larvas são injetadas na corrente sanguínea. Consequentemente, passados cerca de 70 dias, as larvas atingem as artérias pulmonares do cão, onde se continuam a desenvolver. Ao fim de 120 dias, o parasita atinge a sua forma adulta ficando alojado nas artérias pulmonares e no coração. A reprodução parasitária inicia-se e novas larvas são libertadas para a corrente sanguínea. Estas larvas são depois ingeridas por mosquitos que se alimentem do sangue de animais infetados. Completa-se assim o ciclo de vida deste parasita.
Quais são os sintomas da dirofilariose?
A dirofilariose é uma doença grave e potencialmente fatal, especialmente nos cães.
Os sintomas surgem como consequência das lesões que estes parasitas causam no interior dos órgãos onde se alojam, bem como da obstrução que causam ao fluxo sanguíneo.
É uma doença crónica de progressão lenta. Numa fase inicial, os animais são assintomáticos. Os sintomas surgem numa fase já crónica da infeção, sendo os mais usuais:
cansaço
intolerância ao exercício
dificuldade respiratória
tosse persistente
síncope (desmaio)
perda de peso
falta de apetite
insuficiência cardíaca congestiva grave com aparecimento de edemas generalizados (abdómen distende-se muito – ascite).
Em casos severos da doença, principalmente nos casos de insuficiência cardíaca congestiva grave, surgem complicações muito severas, como tromboembolismos e síndrome da veia cava. Nestes casos a morte do animal é quase sempre inevitável. Uma vez instalados sintomas severos, o prognóstico é reservado, sendo a resposta ao tratamento muito limitada.
A dirofilariose existe em quase todo o mundo, afetando principalmente zonas quentes ou temperadas e húmidas.
Em Portugal, embora se registem casos em quase todo o território (à exceção dos Açores) a distribuição da doença é descontínua e endémica em determinadas zonas como zonas costeiras, regadio (baía do Sado, Vale to Tejo e Sorraia, zona do Mondego/Coimbra, Ilha da Madeira.
Porém com as alterações climáticas e aumento da temperatura global, verifica-se uma tendência para a dispersão deste parasita. Por este motivo, veremos cada vez mais casos fora destas zonas identificadas.
Todos os tutores, que vivam ou que viagem/passem férias com os seus animais em zonas de risco, deverão aconselhar-se com o veterinário assistente e realizar prevenção de dirofilariose.
Tal como em outras doenças, a prevenção é importante e salva vidas!
O Diagnóstico
O diagnóstico de dirofilariose pode ser realizado com base na história clínica e evolução dos sintomas, juntamente com alguns exames laboratoriais.
Na maioria dos casos, um simples teste sanguíneo é suficiente para fazer o diagnóstico de doença do parasita do coração.
Atualmente é comum recorrer a testes serológicos para detetar a presença de parasitas adultos. Apesar de ser um teste muito fiável e que deve ser sempre realizado, a sua validade depende da presença de parasitas fêmeas e de uma certa carga parasitária.
O parasita habita nos tecidos e órgãos do animal sob ambas as formas, imatura e adulta. Por isso, com uma amostra de sangue também é possível diagnosticar a doença, observando-se as formas imaturas ao microscópio.
Outras análises sanguíneas, como a hematologia e parâmetros bioquímicos, serão sempre úteis e necessárias para avaliar o estado de saúde dos animais afetados e se é seguro iniciar um tratamento.
Além disso, realizar radiografias torácicas e ecocardiografia são importantes para avaliar lesões pulmões, nos vasos e no coração – locais onde as formas adultas do parasita se alojam.
O tratamento
O tratamento do parasita do coração tem por objetivo melhorar a condição clínica e eliminar os parasitas adultos e formas imaturas, contudo não é livre de riscos.
Os parasitas podem ser eliminados através da administração de fármacos. Contudo, é necessário garantir o repouso absoluto do cão durante algumas semanas – pois existe o risco de causar embolias.
Ao morrerem, os parasitas vão sendo decompostos e encaminhados até aos pulmões, onde se alojam em pequenos vasos e são, eventualmente, eliminados pelo organismo.
É durante o período de eliminação dos parasitas adultos, que fragmentos dos mesmos podem causar embolias – sobretudo se a carga parasitária for elevada e houver lesões pulmonares concomitantes.
Assim, o tratamento exige o acompanhamento e monitorização contínua dos animais pelo Médico Veterinário.
A melhor aposta é a prevenção.
A doença do parasita do coração, é uma doença com distribuição global e existem áreas de risco onde a doença é altamente prevalente – sobretudo em regiões de litoral, com clima quente e temperado ou tropical.
Em Portugal, as regiões da Madeira, Ribatejo, Alentejo e Algarve são consideradas endémicas, e por isso de alto risco de infeção.
A melhor forma de evitar o risco de infeção é através da prevenção. A prevenção deve ser feita durante todo o ano e não apenas durante os meses de maior atividade dos mosquitos.
Existem diversos métodos de prevenção contra a o parasita do coração, desde produtos veterinários em comprimidos, spot-on ou mesmo injeções de libertação lenta que atuam até 6 meses.
Antes de iniciar um protocolo preventivo de sempre aconselhar-se com o Médico Veterinário, uma vez que o despiste prévio da doença é essencial.
Um bom plano preventivo passa também pela utilização de repelentes de mosquitos no ambiente e por abrigar os animais de exterior nos períodos de atividade dos mosquitos – ao amanhecer e ao entardecer.
Consulte o seu Médico Veterinário, ele poderá indicar quais as medidas mais adequadas ao seu cão, tendo presente o local onde vive, a prevalência da doença e o estilo de vida do seu animal.
O Angiostrongylus é um nemátode (verme redondo) responsável por provocar uma doença nos cães denominada Angiostrongilose canina. Este parasita necessita de diferentes tipos de hospedeiros para se desenvolver e reproduzir. Requer hospedeiros definitivos (animais que são parasitados pelos parasitas adultos) e hospedeiros intermediários (animais onde se encontram formas larvares ainda em desenvolvimento).
Neste caso os hospedeiros definitivos são os canídeos (cão e raposa) e os hospedeiros intermediários são o caracol e a lesma.
As raposas são também hospedeiros reservatórios deste parasita. Com o aumento da população de raposas (animais silvestres sem acesso a tratamento), o número de cães diagnosticados com Angiostrongilose também tem vindo a aumentar.
Ciclo de Vida do Angiostrongylus vasorum
O Angiostrongylus vasorum, ou Parasita do Pulmão, é um pequeno verme que, desde o ovo ao parasita adulto, passa por 5 estádios larvares (L1, L2, L3, L4 e L5). Assim se processa o seu ciclo de vida:
1. Os canídeos infetam-se ingerindo caracóis ou lesmas contaminados com formas larvares (L3). Os canídeos também se infetam ingerindo água ou erva húmida contaminada pelas secreções de caracóis e lesmas.
2. As larvas ingeridas vão até ao intestino delgado do cão e migram para os gânglios linfáticos onde permanecem até dar origem a formas larvares mais desenvolvidas (L4 e depois L5).
3. As larvas depois migram, através do sistema linfático, até entrarem na corrente sanguínea. Atingem o ventrículo direito e as artérias pulmonares. É aqui que ocorre o desenvolvimento final e os parasitas atingem a sua forma adulta.
4. No ventrículo direito e artérias pulmonares do cão, passam a existir formas parasitárias adultas, a reproduzir-se ativamente. As fêmeas de Angiostrongylus vasorum libertam ovos na corrente sanguínea. Os ovos atingem os capilares pulmonares onde se inicia o desenvolvimento de novas larvas (L1).
5. Estas novas larvas atravessam as paredes dos brônquios e os alvéolos pulmonares, entrando nos pulmões. O cão tosse, o que ajuda as larvas a “subirem” até à faringe, onde são engolidas. As L1 percorrem todo o trato gastrointestinal até serem eliminadas para o exterior juntamente com as fezes. Estas larvas conseguem manter-se vivas durante vários dias.
6. Os caracóis e lesmas ingerem estas fezes contaminadas. Dentro deles, as pequenas larvas crescem (de L1 para L2 e depois L3) até se tornarem formas larvares infetantes. A partir daí, os parasitas estão prontos para infetar um novo canídeo.
Os parasitas adultos podem manter-se vivos durante todo o tempo de vida do seu hospedeiro. Deste modo, as infeções têm tendência a ser crónicas.
Embora qualquer cão possa ser afetado por este parasita, os cachorros são os mais suscetíveis. Pode dever-se ao facto de os cachorros serem mais curiosos e quererem experimentar tudo com a boca (incluindo ingerir caracóis e lesmas). Por este motivo, é fundamental haver um cuidado especial com o programa de desparasitação dos cães mais novos.
Quais são as lesões que os cães infetados podem sofrer?
Um cão com Parasita do Pulmão pode estar sem sintomas durante muito tempo. As alterações podem ser ligeiras, no início da doença. Mas, em estados avançados, o parasita pode causar a morte do seu hospedeiro.
Ao conhecermos o trajeto do parasita no interior do organismo do cão, conseguimos compreender melhor as lesões que podem surgir. As principais alterações verificadas na Angiostrongilose são, cardiorrespiratórias, hematológicas e neurológicas. Como os sintomas inicialmente podem ser ligeiros, é difícil aos tutores detetarem alterações que indiquem que o seu cão necessite de ajuda médica. Assim, muitos cães só são diagnosticados quando a doença alcançou já uma fase crónica, mais grave.
Zonas de risco
O Parasita do Pulmão foi primeiro identificado em França. Durante muitos anos, os casos descritos de Angiostrongilose canina estavam limitados a zonas muito específicas e bem localizadas. O parasita aparece em zonas onde o clima é temperado e húmido.
Com as alterações climáticas, o aumento de cães a viajarem com os seus tutores de um país para outro e o incremento da população de raposas próximas das zonas urbanas, tem-se visto um aumento dispersão da Angiostrongilose.
Em Portugal já foram detetados casos positivos no Norte, Centro e Sul do país. Há indícios de que o parasita se encontra disperso por todo o território nacional, considerando-se uma doença parasitária emergente. É muito provável que vejamos nos próximos tempos cada vez mais cães com esta doença.
É muito importante para a saúde dos nossos cães que cumpramos planos de desparasitação eficazes que previnam também o Parasita do Pulmão. Só desta forma podemos manter protegidos os nossos amigos e travar a dispersão parasitária pelo território nacional.
Sinais clínicos
A Angiostrongilose canina pode manifestar-se de forma muito variável e, numa fase inicial de infeção, a Angiostrongilose pode até ser assintomática – ou seja, sem qualquer demonstração de alterações clínicas.
A sintomatologia pode ser ligeira e apresentar-se e de uma forma intermitente, em que os animais infetados nem sempre demonstram alterações clínicas ou apresentar-se de forma grave e com alterações potencialmente fatais em casos de infeção crónica.
Os sinais clínicos mais comuns dependem em certa parte da carga parasitária dos cães infetados, e estão associados ao ciclo de vida e desenvolvimento do parasita no interior dos hospedeiros definitivos, neste caso – o cão.
Assim, os sinais clínicos mais comuns em infeções pelo Parasita do Pulmão dizem respeito a alterações cardio-respiratórias, hematológicas (no sangue) e neurológicas (que afetam o sistema nervoso).
Sinais cardiorrespiratórios
tosse
dificuldade respiratória (dispneia)
respiração acelerada e superficial (taquipneia)
intolerância ao exercício
síncope (colapso)
Sinais neurológicos
depressão
paralisia de membros
dificuldades de locomoção
alterações oculares
cegueira
convulsões
Sinais hematológicos
(alterações sanguíneas), estão relacionados com a interferência nos processos de coagulação. Assim, pode(m) observar-se:
pequenos focos de hemorragia na pele (petéquias)
focos de maiores dimensões (equimoses) na pele e mucosas
hemorragias extensas
anemia
Outros fatores que podem influenciar os sinais clínicos são a idade, a presença de doenças concomitantes e o estado imunitário dos animais. Geralmente, pela sua natural curiosidade e comportamento, os animais mais jovens (com menos de um ano de idade) são os mais afetados. Contudo, podem observar-se casos de infeção pelo Parasita do Pulmão em cães de todas as idades.
O facto de os animais também poderem apresentar outras doenças concomitantes (doenças cardíacas ou respiratórias, endócrinas, etc) pode agravar a manifestação dos sinais clínicos de Angiostrongilose.
Diagnóstico
Existem vários métodos que são usadas para o diagnóstico definitivo de Angiostrongilose.
Coprologia
Cultura e testes às fezes dos animais e, mais concretamente, através de um método chamado teste de Baermann. A presença de parasitas detetados por este método confirma o diagnóstico, mas a ausência de larvas não exclui que possa existir a doença.
Serologia
É também possível alcançar um diagnóstico definitivo de Angiostrongilose através de testes serológicos. Estes testes são mais rápidos que a coprologia e permitem a deteção de antigénios específicos do parasita Angiostrongylus vasorum no sangue de animais infetados.
Outros
Outros métodos disponíveis, mas menos comuns, incluem métodos moleculares (como o PCR) ou lavagens broncoalveolares.
Imagiologia
Uma vez que os métodos radiográficos (radiografias e imagem avançada como TAC) têm frequentemente resultados pouco específicos, não permitem um diagnóstico definitivo de Angiostrongilose. No entanto, são úteis e muito importantes para compreender as lesões existentes (a nível pulmonar e neurológico, por exemplo).
A ecocardiografia pode também ser útil na avaliação de potenciais lesões às câmaras cardíacas, válvulas e vasos, uma vez que o parasita se aloja na artéria pulmonar e no pulmão.
Análises sanguíneas
As alterações hematológicas e bioquímicas em animais infetados com o Parasita do Pulmão parecem ser algo variáveis e por isso, também pouco específicas. Ainda assim, poderão ser encontradas alterações sugestivas de processos inflamatórios ou infecciosos e elevações nas proteínas (entre as quais as globulinas), podendo levantar então uma suspeita para respostas imunitárias e/ou parasitárias.
Tratamento
Felizmente a Angiostrongilose tem tratamento, e que em primeiro lugar deve ser orientado à eliminação do parasita e ao controlo dos sinais clínicos. O Parasita do Pulmão é sensível a alguns agentes antiparasitários e existem diferentes protocolos que podem ser utilizados para o seu controlo.
A necessidade de internamento dos animais infetados depende da gravidade das lesões e dos sinais clínicos manifestados. No entanto, e ainda que possam ser ligeiros, o controlo dos sinais clínicos é essencial de forma a garantir uma recuperação célere e a diminuição da possibilidade de lesões permanentes.
Após tratamento, a maioria dos animais infetados recupera completamente. O tempo de recuperação é variável e depende da gravidade das lesões e da carga parasitária. Contudo, quanto mais precoce for o tratamento melhores as possibilidades de recuperação.
Prevenção
Em áreas onde se sabe que existe possibilidade de infeção, o melhor procedimento é a prevenção, administrando aos nossos cães desparasitantes adequados, de forma regular. Na prevenção específica de Angiostrongylus vasorum, recomenda-se a utilização mensal de desparasitantes internos com efeito reconhecido sobre o parasita A. vasorum.
Outras medidas de prevenção passam por evitar a disseminação dos parasitas que pode, e deve, ser feita através da recolha das fezes dos nossos animais. Desta forma, a possibilidade de infeção de outros animais baixa e o ciclo de vida do parasita é interrompido.
A melhor recomendação é a prevenção – garantir que mantém a desparasitação do seu cão em dia, recorrendo a produtos adequados e não esquecendo a sua administração.
É importante lembrar que a administração dos antiparasitários deve ser ajustada ao peso do seu cão, aos perigos específicos da sua zona geográfica e ao estilo de vida que proporciona ao seu cão (acesso exterior, contacto com espaços verdes, etc).
Na dúvida, consulte o seu Médico Veterinário que lhe indicará a melhor solução para manter os seus animais de estimação protegidos e seguros.
O sopro cardíaco é um sintoma que se pode detetar com auscultação cardíaca durante um exame físico. O sopro é originado pelo fluxo de sangue a atravessar os vasos e as válvulas cardíacas. Ocorre, normalmente, quando existe mau funcionamento das válvulas cardíacas e das grandes artérias. Mas também pode ocorrer devido a defeitos congénitos do coração, dilatação cardíaca ou mesmo em situações sem patologia cardíaca.
O coração é composto por 4 cavidades: o átrio esquerdo, o átrio direito, o ventrículo esquerdo e o ventrículo direito. O coração contém 4 válvulas: a válvula mitral, a válvula tricúspide, a válvula aórtica e a válvula pulmonar.
As válvulas são compostas por umas estruturas em folha e garantem que dentro do coração o sangue flua só num sentido. As válvulas se fecham quando o coração se contrai, evitando o retrocesso do sangue e abrem quando o coração relaxa, fazendo com que o fluxo sanguíneo flua num único sentido.
São muitas as doenças que podem levar ao desenvolvimento de sopros cardíacos, entre as quais se destaca a Doença da Válvula Mitral – a causa mais importante e frequente de doença cardíaca nos cães.
A doença degenerativa da válvula mitral, também chamada Doença Mixomatosa da Válvula Mitral (DMVM) é a doença cardíaca que mais afeta os cães.
Como a progressão da doença é lenta, o período em que os cães afetados permanecem assintomáticos é longo.
Sabe-se que a doença afeta mais frequentemente cães machos de meia idade e idosos e tem maior incidência nas raças pequenas.
Algumas raças são particularmente predispostas a esta doença. Por exemplo: Cavalier King Charles Spaniel, Caniche, Whippet, Yorkshire Terrier, Chihuahua, Shih-Tzu, Schnauzer miniatura, Teckel, Border Collie e Pastor Alemão.
Os estudos existentes apontam que 3% de todos os cães que vão ao veterinário para uma consulta de rotina (p.ex. vacinação) tenham esta patologia. Ou seja, na maioria dos casos, apesar do animal ter sopro cardíaco, os tutores não notam qualquer alteração no estado geral do animal.
Nos animais com DMVM, o tecido que constitui a válvula mitral fica alterado, degenera-se. Isto leva a que a válvula se vá tornando mais espessa e irregular fazendo com que não feche hermeticamente, deixando “escapar” jatos de sangue que originam o sopro.
À medida que a doença progride, o coração vai-se dilatando e vão surgindo sintomas de insuficiência cardíaca congestiva. Os tratamentos existentes servem sobretudo para retardar a doença, corrigindo e compensando as falhas cardíacas, prolongando o tempo de vida dos pacientes.
Uma vez identificado um sopro cardíaco, mesmo na ausência de sinais clínicos, devem ser realizados exames complementares de diagnóstico como Raios-X do tórax e ecocardiografia para avaliar a morfologia cardíaca e ter uma base de referência para controlar a progressão da doença a longo prazo. Estes exames também permitem ajustar o tratamento necessário para retardar a evolução da doença.
Atualmente os estudos demonstram que é vantajoso iniciar terapêutica em cães com doença da válvula mitral e com cardiomegália confirmada, mesmo antes de surgirem sinais clínicos como intolerância ao exercício, tosse ou problemas respiratórios.
Na verdade, com a medicação adequada, é possível retardar o aparecimento de sinais clínicos e prolongar o tempo de vida dos pacientes durante muitos meses.
A Mixomatose é uma doença infecto-contagiosa causada por um Poxvírus denominado Fibroma de Shope.
O vírus transmite-se por contacto directo entre os animais doentes, mas também através de parasitas externos como por exemplo, mosquitos ou pulgas.
Os parasitas que se alimentam de sangue podem manter o vírus activo no seu organismo durante vários meses e disseminar facilmente a doença.
Após a picada pelo insecto contaminado, os sintomas podem aparecer entre cinco dias a uma semana. Os sinais típicos são edemas generalizados, principalmente na cabeça (olhos e orelhas), disseminando-se rapidamente por todo o corpo.
A Mixomatose é na maioria das vezes fatal.
A prevenção da doença faz-se através da vacinação e controlo de parasitas externos.
Os coelhinhos devem ser vacinados a partir de um mês de idade e revacinados semestralmente.
A Doença Hemorrágica Viral dos Coelhos (DHV) afeta o coelho doméstico e o coelho-bravo, tendo sido identificada pela primeira vez em Portugal, no arquipélago da Madeira, em 1987. Nos anos seguintes, o vírus da DHV (RHDV) foi detetado no arquipélago dos Açores e no Continente, e devido à elevada transmissibilidade e resistência no meio ambiente, tornou-se endémico nalgumas áreas.
A Doença Hemorrágica Viral (DHV) é uma doença infecto-contagiosa causada por um Calicivírus.
A DHV é altamente contagiosa, transmitindo-se quer por contacto directo, quer indirecto (através de objectos contaminados, roedores e insectos).
Os objectos contaminados podem ser uma fonte de contágio se não forem lavados e desinfectados convenientemente, mesmo após a eliminação dos animais doentes.
Os animais afectados morrem muitas vezes sem apresentar qualquer sinal clínico, outras vezes apresentam sintomas neurológicos (descoordenação, excitação) e hemorragias pelo nariz ou através de outros orifícios naturais. Os sintomas manifestam-se cerca de 48 horas após a infecção.
A mortalidade pode variar entre os 50 e os 100 por cento. Os coelhos que sobrevivem à doença permanecem como portadores e podem continuar a excretar vírus durante aproximadamente um mês.
A prevenção da DHV faz-se através da vacinação e controlo de insectos e objectos contaminados. Como plao de prevenção, os coelhinhos devem ser vacinados a partir dos dois meses de idade e revacinados anualmente.
As patologias dentária em coelhos é um problema muito frequente. As causas desta patologia podem ser muito variadas, mas estão intimamente relacionadas com o facto de os coelhos apresentarem dentes de crescimento contínuo.
Além dos incisivos, que se podem observar facilmente, têm também pré-molares e molares que, devido às características anatómicas da boca dos coelhos, não são fáceis de visualizar, sendo necessário recorrer a uma ligeira sedação para o exame dos mesmos.
Os dentes incisivos são utilizados para cortar o alimento, enquanto os molares e pré-molares servem para moer a comida e reduzi-la a pequenos fragmentos.
O desgaste dos dentes faz-se quer através da mastigação, quer pelo contacto entre dentes.
A etiologia dos problemas dentários é muito variada: podendo ser hereditária, congénita ou adquirida (por deficiências durante o crescimento, dieta inadequada ou por trauma). As alterações dentárias nem sempre são fáceis de diagnosticar. Por vezes, os sintomas são apenas ligeiras alterações do comportamento, como diminuição do apetite ou da ingestão de água.
Devido à sua natureza tímida e discreta, os coelhos não manifestam de uma forma evidente a dor ou mal-estar, por isso muitas vezes quando nos apercebemos das alterações, estas podem estar a decorrer já de uma forma crónica e podemos estar perante patologias graves (por exemplo, abcessos das raízes dentárias com envolvimento ósseo) que podem mesmo resultar em alterações irreversíveis.
É necessário um exame oral completo regular, sendo por vezes imperioso recorrer a exames complementares de diagnóstico, como o Raios X, para avaliar com precisão a gravidade do caso e adoptar medidas adequadas.